Qual é a proposta da nova rotulagem de alimentos?

Imagine chegar no mercado, pegar um produto e, então, se deparar com um triângulo preto dizendo ALTO EM SÓDIO. Você pensaria duas vezes antes de colocar o produto no carrinho, não é? Pois é essa a ideia da proposta da nova rotulagem de alimentos.

Mudar os rótulos afetará não apenas a indústria, mas a maneira como consumidor se relaciona com sua alimentação. Como a embalagem é o principal meio de comunicação entre o produtor e o consumidor final, prezar por um informações claras é um dos primeiros passos para garantir escolhas mais conscientes e saudáveis.

Continue lendo para entender qual é a proposta da nova rotulagem e sua importância! É preciso ficar atento às mudanças, pois a ANVISA pretende aplicá-las ainda em 2018.

Conheça aqui a proposta da rotulagem de alimentos

Por que mudar a rotulagem atual?

Mas será que, realmente, precisamos mudar os rótulos? Sim, precisamos, pois, infelizmente, eles não são claros o suficiente para garantir que o consumidor tenha o poder de escolha totalmente em suas mãos. Nem todos são capazes de interpretar uma tabela nutricional ou a lista de ingredientes, além do fato dessas informações, muitas vezes, estarem escondidas entre cores e frases de efeito.

O Código de Defesa do Consumidor diz que é um direito ter “informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, preço, bem como os riscos que apresentam”. Hoje, porém, essas especificações são confusas e insuficientes.

O rótulo é a ferramenta principal na hora de orientar o consumidor. Mas se as informações principais estão mascaradas em linhas finas e no meio de publicidades distorcidas, o consumidor, então, está sendo enganado.

Com alertas visíveis sobre os riscos dos produtos processados e ultraprocessados, a indústria se vê obrigada a repensar suas formas de produzir. Afinal, uma mãe não irá comprar diversos produtos com o alerta de alto em açúcar para o seu filho. O adulto fará comparações entre os alimentos e, finalmente, conseguirá distinguir o melhor e qual, de fato, atende às suas necessidades.

Entre os principais problemas da rotulagem atual, podemos citar:

  • A declaração da quantidade de açúcar não é obrigatória;
  • Apresentação gráfica imprópria;
  • Os números não condizem com as frases promocionais;
  • A linguagem é incompreensível para a maioria dos consumidores;
  • Não há diferenciação entre os nutrientes que devem ser evitados e os melhores a se consumir;
  • As porções não correspondem à quantidade consumida na realidade.

 

Como funciona em outros países?

O Brasil está, consideravelmente, atrasado, pois mais de 40 países possuem um modelo de rotulagem nutricional frontal, ou seja, posicionado na frente da embalagem e dos olhos de quem consome. O Chile tem um modelo parecido com a proposta brasileira, que inclui um octógono preto indicando o alto de teor de determinados ingredientes ou nutrientes.

O Reino Unido usa o semáforo nutricional, o desejado pelas indústrias brasileiras no momento. O presidente da ANVISA, porém, considera esse modelo fácil de ser disfarçado nas embalagens, acabando com a ideia inicial de trazer informação de fácil acesso e compreensão.

O semáforo também demanda mais tempo para ser interpretado em comparação aos alertas precisos. Outro problema é quando pensamos que a informação é dada pela porção, não quantidade relativa. Vamos considerar que um alimento receberia o sinal amarelo se em uma porção menor ou igual a 100g tenha entre 5g e 13,5g de açúcar. Dessa forma, os alimentos são classificados desproporcionalmente. Tanto uma bolacha com uma porção de 100g e 7g de açúcar quanto outra bolacha com uma porção de 20g e 13g de açúcar seriam consideradas moderadas, sendo que a primeira tem 7% de açúcar e a outra 65%.

A França diferencia-se do resto ao utilizar um sistema com letras que vão de A a E para classificar o quão saudável é o alimento. A Suécia e Noruega, por sua vez, são alguns dos países com o keywhole, método que usa um símbolo de fechadura para indicar as opções mais saudáveis dentro da categoria.

Precisamos lembrar também do nível de educação básica de cada um desses países, que influencia diretamente na capacidade de interpretação e associação dos cidadãos comuns.

Qual é a proposta da nova rotulagem de alimentos?

Desde 2014, a ANVISA criou grupos de trabalho para discutir mudanças na legislação da rotulagem, o que mostra como essa não é uma mudança impulsiva. Os grupos, com seu conhecimento técnico e científico, diagnosticaram os principais problemas para propor alternativas.

Depois de discussões e estudos, no dia 21 de maio de 2018, a ANVISA divulgou um relatório técnico que avalia maneiras de tornar mais fácil a leitura dos rótulos. Lá, você encontrará o contexto sobre a regulação da rotulagem, o histórico da rotulagem no Brasil, o cenário epidemiológico e alimentar atual, além dos possíveis novos modelos.

 

Qual é, afinal, a ideia da nova rotulagem de alimentos?  

A proposta é colocar uma advertência na frente dos rótulos sobre a presença de alto teor de gordura trans, sódio e açúcar. Esses alertas podem ser em forma de octógono, círculo ou triângulo. O preenchimento será em vermelho e preto e as frases, dentro, em caixa alta.

Os parâmetros para considerar um produto “alto em”, na página 170 e 171 do relatório, foram feitos com base na Organização Mundial da Saúde e em diretrizes do Codex Alimentarius. Para a gordura saturada e o sódio, por exemplo, foi adotado o valor de 20 g e 2000 mg respectivamente.

A tabela nutricional também sofrerá mudanças. A ANVISA deseja incluir os açúcares livres, ou seja, os adicionados pela indústria, e os açúcares totais, representando o total de carboidrato do alimento e o adicionado. Técnicos também defendem que a declaração não seja mais por porção e, sim, pelo padrão de 100g ou ml.

 

O que acontece agora?

Com o relatório divulgado, os formatos propostos serão avaliados com a abertura de tomada pública de subsídios (TPS) por 45 dias. As contribuições se dividem em quatro seções:

  • Participação da sociedade com perguntas sobre a visão do consumidor e do setor produtivo;
  • Análise de impacto regulatório com nove perguntas para órgãos do governo, setor produtivo, entidades e academia;
  • Design gráfico e comunicação, com dez perguntas para especialistas;
  • Uma pergunta sobre o prazo de adequação.

A ideia é coletar mais subsídios e informação para avaliar os impactos da solução antes que o texto seja apresentado em consulta pública. Diversas organizações, como o Conselho Federal de Nutricionistas, Fundação do Câncer e Sociedade Brasileira de Hipertensão, apoiam essa mudança.

Sempre haverá resistência ao novo, mas os alertas no rótulo farão com que o consumidor se alimente de forma mais responsável e saudável, além de mudar os padrões negativos da indústria. É preciso garantir este direito do consumidor.

O que você acha da proposta da nova rotulagem de alimentos? Concorda? Está preparado para mudança? Para ficar por dentro das próximas fases e novidades no mundo da alimentação, nos siga no facebook e instagram!