É bem comum que as pessoas se assustem ao ouvir as palavras “cuidados paliativos”. Como se fosse algo ruim. No entanto, essas práticas nada tem a ver com abandono de tratamento, falta de opção ou abreviação da vida – muito pelo contrário! Dentro desse contexto, o nutricionista nos cuidados paliativos é um profissional essencial. Afinal, a alimentação é um fator fundamental do início ao fim da vida.

Definição de cuidados paliativos

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados paliativos são “uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e seus familiares frente a problemas associados à doença terminal, através da prevenção e alívio do sofrimento, identificando, avaliando e tratando a dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais”.

O Doutor Rodolfo Moraes, médico paliativista, fala em seu instagram sobre cuidados paliativos como uma assistência prestada por uma equipe interdisciplinar de saúde que visa dar qualidade de vida ao paciente e sua família, no contexto de doenças graves que lhe ameacem a vida. O foco é a pessoa por trás da doença, trazendo esse ser humano para o centro das atenções e lhe dando autonomia. Isso, é claro, com muito respeito e evidência.

Ao contrário do alguns pensam, o cuidado paliativo NÃO anula o tratamento. Ele é complementar. Ainda existem possibilidades terapêuticas para o paciente em cuidados paliativos. A cura é possível. E mesmo quando ela não for mais, os cuidados paliativos estão ali para amenizar o sofrimento e possibilitar uma vida com autonomia.

Foco do nutricionista nos cuidados paliativos

Com a evolução de diversas doenças, é provável que o paciente diminua sua ingestão alimentar. As medicações e os tratamentos também mudam o perfil fisiológico. Muitas vezes, esses pacientes estão desnutridos, perderam muita massa muscular, não conseguem comer e simplesmente não tem apetite.

Sendo assim, o nutricionista em cuidados paliativos tem como objetivo reduzir os desconfortos causados pela alimentação, trazer de volta ao paciente o prazer em comer e fortalecer relações por meio das refeições.

A American Dietetic Association (ADA) diz que pacientes com doenças avançadas, possuem, por meio da nutrição, mais conforto emocional, prazer, auxílio na diminuição da ansiedade e aumento da autoestima e independência, além de colaborar para melhor comunicação e integração dos familiares.

Nutricionista nos cuidados paliativos - dieta enteral

Alimentação não é só sobre nutrientes

E é isso que o nutricionista em cuidados paliativos entende. A alimentação desempenha um papel fisiológico, mas também está relacionada a aspectos emocionais, religiosos, socioculturais, de bem-estar e de prazer.

Então, sim, o nutricionista vai pensar nas necessidades energéticas, peso, hidratação, composição corporal, etc. Só que ao mesmo tempo vai considerar a complexidade daquele ser humano em cuidados paliativos. Como a alimentação pode melhorar sua qualidade de vida indo além apenas da ingestão de nutrientes?

Após o diagnóstico, os pacientes em cuidados paliativos mudam completamente sua rotina de vida. Os dias passam a ser sobre os tratamentos e as consultas. Isso leva a uma grande frustração, o que pode até piorar o processo de adoecimento.

Por isso, é preciso considerar os desejos e preferências desse paciente, lhe dando autonomia sobre sua própria alimentação. É claro que existem limitações, mas cabe ao nutricionista nos cuidados paliativos ressignificar o alimento, o tornando uma fonte de prazer e conforto, não outra frustração.

Quando o paciente não consegue comer…

Cabe ao nutricionista avaliar qual é a melhor forma de administração da dieta. No entanto, o direito de autonomia do paciente é o que prevalece.

Sempre que possível a via oral deve ser priorizada, desde que o trato gastrointestinal do paciente esteja funcionando e o mesmo tenha condições clínicas para recebê-la. A via oral pode ser combinada com a terapia nutricional enteral e paraenteral.

Vale ressaltar que ainda há muita controvérsia sobre o tema. Isso porque é um direito do paciente não se alimentar mais. Essas escolhas, porém, não devem causar a morte mais rapidamente do que a progressão da doença. Uma vez que os cuidados paliativos não aceleram, nem adiam a morte. A equipe tenta evitar desconfortos e deixa acontecer o processo natural da doença, de forma acolhedora e respeitosa.

Envolvimento com a família

O nutricionista em cuidados paliativos deve desenvolver sua habilidade de comunicação. Em seu trabalho, o profissional irá se deparar com muitas discussões e interrogações quanto à conduta dietoterápica. Tanto pela equipe quanto pelo paciente e sua família.

Faz parte da sua rotina oferecer orientação e aconselhamento nutricional ao paciente e seus familiares. Por isso, sua capacidade de comunicação é tão importante quanto os saberes técnicos da nutrição.

Porque independente de qual seja a melhor conduta dietoterápica a ser realizada, o nutricionista precisa, acima de tudo, escutar, acolher e respeitar a vontade do indivíduo para lhe proporcionar qualidade de vida.

O papel do nutricionista nos cuidados paliativos

Vida com dignidade

Em resumo, as decisões do nutricionista nos cuidados paliativos têm como base a autonomia, colocando o paciente no centro. É sobre humanizar a relação profissional de saúde, paciente e familiares desde o início do diagnóstico e promover dignidade de vida diante de sua terminalidade.

Assim, é possível trilhar um caminho conhecido e escolhido pelo protagonista da história: o paciente! Não é sobre jogar a toalha. Há muito a ser feito dentro dos cuidados paliativos. Afinal, eles não significam “falta de recursos”. Esses cuidados são um recurso em si!

O nutricionista, assim, contribui para a qualidade de vida desse paciente, sendo responsável por reduzir efeitos colaterais e sintomas provocados pelo tratamento e pela doença. A prioridade é oferecer prazer e conforto, já que nem sempre será possível atender todas as necessidades nutricionais. Dessa maneira, o apoio e o aconselhamento andam lado a lado da adequação nutricional.

De fato, ainda há muito a se caminhar nessa área. A alimentação tem caráter simbólico e isso deve ser considerado ao falar sobre o nutricionista nos cuidados paliativos. Tenha em mente que sua relação com o paciente vai além de recomendações preestabelecidas.

Agora, conta pra gente: o que achou desse post? Considera um tema interessante? Tem vontade de atuar nessa área? Compartilha com a gente nos comentários!